Nem sempre as cosias saem como planejamos.
Aliás, ouso dizer que existem alguns dias em que o caos impera e, por mais que façamos tudo o que está ao nosso alcance para derrotá-lo, parece que nada, absolutamente nada, pode detê-lo.
Mesmo assim, diante do caos, continuo na vã tarefa de diblar as dificuldades, como se trabalhar sob pressão ou então solucionar o que aparentemente não há solução fosse uma espécie de hobbie.
Há quem diga que tenho um imã para problemas e confusões!
Era uma sexta-feira no Colégio!
Quem conhece o cotidiano de uma escola sabe bem do que estou falando.
Sexta-feira; a libido contida parece extravasar pelos poros da criançada... verte energia por tudo quanto é buraco!! Até o olhar daqueles mais CDF´s´parece ter uma energia pronta para ser liberada a qualquer momento.
Sinto medo das sextas-feiras!
Como se não bastasse, estava chovendo. Muito! E na hora da entrada!
Tudo bem, São Paulo passou dos quarenta dias sem chuva mas... tinha que chover tanto assim na sexta-feira? E na hora da entrada?
Caos, caos, caos... Guarda-chuvas que se batem, crianças corendo na chuva, professor ligando prá avisar que está preso no trânsito... mais crianças correndo... mais guarda-chuvas... e água! Muita água!
Eram 12h30 aproximadamente.
Nesse contexto ouço meu nome.
Não, não era Sõ Pedro perguntando se já podia desligar a torneirinha do céu! Tampouco alguém para solucionar algo (acho que não é só comigo que acontece isso: sempre me procuram prá dizer que há um problema... nunca ninguém chegou me perguntando "quer que eu resolva algo prá você?").
Era a doce e simpática Dna. Leônidas pedindo que eu conversasse com um aluno do Fund I que estava descalço e por nada nesse mundo queria colocar o tênis e as meias!!
Não dá prá dizer não prá Dna. Leônidas e, apesar de meus questionamentos (Ele não é "dos meus"... não tem ninguém do Fund I aí? .... Mas, e a professora dele?), partí para o diálogo com o tal aluno.
Lá estava o camaradinha, descalço e com o pé molhado no chão gelado (receita básica prá ficar com gripe, aliás!). Tentei por todo custo convencê-lo mas acabei convencido... suas meias estavam encharcadas e, por isso, não queria calçá-las!
Esse era o momento exato em que eu devia colocar um ponto final na história... mas não! Tinha que querer resolver a parada! Claro, afinal de contas, quem mais poderia fazê-lo?? (preciso aprender a dizer não prá mim mesmo!)
Com didatismo e cautela, pedi para que ele confiase em mim e me entregase suas meias. Conseguí!
Fui até a cozinha do Colégio e ZAZ!!! Idéias superhipermega bestas...
Minha mãe costumava colocar roupas atráz da geladeira para que secassem mais rápido mas, primeiro, isso era no século passado;
segundo, tinha que secar rápido ou então o menino continuaria com o pé no chã e, definitivamente,
terceiro, era necessário rapidez no processo!
Olhei pro microondas e ele olhou prá mim! Lembrei do dia em que sequei a camiseta do uniforme do colégio da Juju (tá certo, estraguei uma camiseta mas da segunda vez deu certo! Juro!)... e lá fui eu em diração ao forno, com as meias do menino e com a alma de uma criança ingênua, que repete os passos do último erro!
Bom, com o critério nada científico, decidi por marcar dois minutos. Podia jurar que seriam suficientes para secar o par de meias. Só faltou avisar meu dedo!!!
Meias no microondas... tempo selecionado... iniciar!!
Era um balé interesante de se ver: as meias girando dentro do forno, a expectativa de ver um aluno feliz. Tudo parecia conspirar a favor!!
Mas era sexta-feira! Estava chovendo! Era hora da entrada!
Conjunção astral propícia a merda! Aliás, o I.V.D.M.* era altíssimo!!!
Podia jurar que selecionei dois minutos e por isso fui até a porta, conversei com os professores que estavam na sala ao lado da cozinha mas um cheiro estranho tomou conta do ar repentinamente!!
Ao olhar para o microondas, quase não o vi, pois estava envolto à fumaça (da meia chulezenta e úmida) e, no relógio, algo do tipo 15:28 (não lembro da dezena correspondente aos segundos... só lembro do 15... e de ter dito um palavrão!)
Rápido, rápido, rápido!!
Abre o forno, pega a meia (bem... o que sobrou dela), esconde os vestígios, fecha a porta, sai correndo, pede um vale pro Sr. Jayme (afinal, já tinha combinado em função do Dia dos Pais), pega a Juh, vai até o Azulão** para que ela providencie o almoço, corre pela Monteiro de Melo até a lojinha de roupas e diz: Moça, me vê um par de meias que sirva para uma criança de seis ou sete anos PELO AMOR DE DEUS!!!
UFA!
Volto correndo para o colégio e, esbaforido, entrego as meias ao menino: Olha, não te falei que lhe traria meias secas?
Mas não são minhas! disse o menino!
Respondi que eram novas e que as molhadas haviam sido jogadas no lixo...
Precisava ainda dar conta das meias torradas, do cheiro e da desinfeccção do microondas. Pena que nesse meio tempo, missões de professores investigavam a origem do fétido odor que se espalhara pela cozinha, pela sala dos professores e pelo espaço da E.I.
Impossível negar o que fiz! E até tinha gente achando que o cheiro vinha de uma pilha de caixas de salgadinhos para festa de aniversário de uma menininha do Fund I.
Ao final do processo (cerca de quinze intensos minutos), fotos para a imortalização da sexta-feira caótica!
IMPORTANTE: O microondas foi limpo e desinfectado, as meias queimadas jogadas no lixo, minha pessoa chacoteada até mas, o mais importante é que o menino vestiu meias secas!
Os créditos das fotos são da Anne Kelly, profa. de português.
*O I.V.D.M. é o famoso Índice de Vai Dar Merda! Quem me conhece, sabe o quanto utilizo esse indicador (que, aliás, supera a Fundação Getúlio Vargas, a USP, a PUCCAMP e todos os outros institutos em termos de exatidão).